terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

OS BARBAROS GERMÂNICOS: Sociedade e cultura na idade antiga



RESUMO
Os bárbaros germânicos um povo vindo das regiões ao norte do império romano, considerados não civilizados, rudes e sem cultura, porem na realidade detinham cultura e uma sociedade orgânica, bem dividida, não detinham noção de estado apesar disso existia uma justiça conhecida como lei de sangue. A religião extremamente importante em suas vidas, desde sua noção de paraíso até suas divindades detinham grande papel seu modo de agir e pensar. Guerreiros por natureza, a guerra era o que fazia girar sua economia.
Palavras-chave: bárbaros, povos germânicos, idade antiga.
ABSTRACT
The Germanic barbarians a people coming from regions north of the Roman Empire, considered uncivilized, rude and uncultured, however actually owned an organic society and culture, and divided, not held notion nonetheless existed a state known as justice law blood. The religion very important in their lives, since his notion of paradise until their deities held large role her way of acting and thinking. Warriors by nature, war was what would turn its economy.
Keywords: barbarians, Germanic peoples, old age.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por finalidade apresentar a cultura e a sociedade dos Reinos Bárbaros, com enfoque principal dos povos germânicos. A escolha desse tema é devido ao pouco que se fala dos mesmos na idade antiga, cita-se muito da democracia grega, dos guerreiros de Esparta e da republica de Roma, deixando-os ditos bárbaros esquecidos. Apesar de considerados não civilizados, esses povos detinham uma cultura inimaginável, um domínio enorme do ferro, uma religião muito especifica que até hoje tem seus seguidores, além de dominarem a agricultura e um grande fervor pela guerra.
Portanto é clara a importância do estudo aos germanos no decorrer da historia mundial, pois alem deles serem um dos fatores principais da queda do império romano, são a base de uma das sociedades mais importantes de nossa era.
2 SIGNIFICADO DO TERMO BARBARO
O termo bárbaro veio do  grego antigo, βάρβαρος, e seu significado é de “não grego”[1], ou seja, estrangeiros que não tinham como língua materna o grego. Mas foi especialmente no Império Romano que o termo adquiriu popularidade referindo-se aos não romanos como incivilizados, demonstrando um grande preconceito contra aqueles que não partilhavam da cultura romana.
O termo era bastante abrangente, pois todos que viviam alem dos territórios romanos eram denominados bárbaros e estes incluem Alanos, Saxões, Lombardos,  Burgúndios, Visigodos, Suevos, Vândalos, Ostrogodos, Hunos e outras subdivisões dos  Germânicos.
3 ORIGEM DA PALAVRA GERMANO
Sabemos que primeiramente quem usou o termo germano foi Posidônio por volta do Sec. I a.C em seu 30º livro, que junto com suas outras obras encontram-se perdidas; e seu significado conforme Maria Sonsoles Guerras é (1987, p.9-10) “[...] dele se deu a teoria segundo a qual a palavra germano designava o conjunto de povos instalados entre os rios Reno e Vístula.”.
Porém outra origem do termo como referencia a um povo em si vem do latim :
Como um etnônimo, a palavra é comprovada pela primeira vez em 223 a.C. na inscrição de Fasti Capotolini, DE GALLEIS INSVBRIBVS ET GERM, onde ela simplesmente se refere a povos "próximos" ou relacionados aos gauleses. Se o nome próprio posterior GERMANI deriva desta palavra, a referência a este uso deve ser baseada na experiência romana de ver as tribos germânicas como aliadas dos celtas.(Em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Germanos)
Visto que se existem duas prováveis fontes, é impossível dizer corretamente de onde se originou o termo, mas a partir do pressuposto da datação do documento podemos afirmar que a origem latina do termo germano foi a primeira a existir, visto que, sua datação vem do século Sec. III a.C, aproximadamente dois séculos antes de Posidônio.
4 OS GERMÂNICOS
Dentre os povos germânicos existem diversas subdivisões, porém cabe aqui somente referir-se aos principais, visto que, muitos desses povos tiveram grande influencia no mundo romano do qual somos descendente, destes incluem os Godos, que habitavam a região conhecida como Vístula hoje é a Polônia, deste surgiu duas subdivisões os Visigodos e Ostrogodos, os primeiros ocuparam a península Ibéria até a chegada dos mouros por volta do Sec. VI d.C, já o segundo ocupou o que chamamos de Escandinávia .
Outro importante povo germânico foi os Francos, que formaram praticamente o que conhecemos hoje como França e Alemanha, além desses temos os Anglos-Saxões, povo que habitou a região da Bretanha,também os Teutões  ,habitantes da região norte da Europa e os Vândalos,que habitaram a região norte da áfrica especialmente em Cartago onde ficaram até as invasões mouras.
É importante ressaltar que todos esses povos deixaram sua marca nos dias atuais, principalmente os povos que foram assimilados por outros, devido a hegemonia que os francos assumiram logo após a queda do império romano, como os Lombardos, que apesar de incorporarem a outros povos, deixaram sua marca na região da Itália nomeando a como Lombardia, mesmo caso do Burgundios onde sua herança está na região da Borgonha e assim foi com outros povos.
5 SOCIEDADE
Algo comum a quase todos os reinos bárbaros era de como sua sociedade estava subdividida, os mesmos não conheciam estado, o que vieram a conhecer somente após a queda do império romano no ano 476 d.C
Os Reis dos povos francos, godos, vândalos etc, não tinham nenhuma idéia de um Estado cuja responsabilidade lhes cabia. Eram proprietários de suas conquistas e as partilhavam entre seus sucessores, em geral seus fllhos. A idéia de explorar metodicamente suas riquezas igualmente lhes escapava: viviam em um domínio até o esgotamento das reservas, depois procuravam outros recursos. Sua Corte era integrada pelos fiéis e parentes. A organização familiar (...) permaneceu idêntica após as invasões: compra de esposa, direito patemo de justiça, solidariedade familiar, divórcio excepcionalmente, mas concubinato muito comum, pelo menos entre os Reis. (em: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=79)
A estrutura social dos germanos basicamente não se diferencia muito da própria Grécia e Roma antiga, a noção do pai como chefe da família, filhos  sobre o  domínio do mesmo, mulher submissa e inferior porem a mesma deve ser guerreira algo que nos lembra muito esparta.
Outro ponto curioso é com a postura com a mulher, é o direito paterno de justiça que se assemelha a cultura espartana, isto é, o pai poderia ou não assumir a criança,além  do casamento monogâmico, porém é claro que a traição masculina existia e não era nada punida,diferentemente  da  feminina devido a mulher na sociedade germânica ser símbolo de  pureza ,conforme Maria Sonsoles Guerras afirma (1987, p.15)“ [...] a infidelidade feminina era castigada com a morte e repúdio, já que a mulher era guardiã da pureza[...]”
A noção de direito não existia, porem o filho era responsabilidade de seus pais, portanto qualquer falta cometida por ele ou qualquer outro membro recaia sobre seu responsável que era o chefe da família. A lei maior que os julgava era o preço do sangue, que conforme o crime pagava-se certo valor, que podia ser desde animais, até os serviços como a escravidão.


6 RELIGIÃO
Os germanos, não chegaram a ter deuses em comum, isto é, a personificação e um nome, porém os mesmos possuíam em comum a adoração a natureza, destes incluem o trovão, sol, chuva e o raio.
Os seus cultos eram bem simples, porem extremamente ligados a natureza, a maioria de seus ritos, eram realizados ao ar livre, próximo de locais marcantes como montanhas, rios e florestas.
Apesar desse fator, alguns desses povos, até devido a incorporação dos mesmos por outros, acabaram adquirindo divindades semelhantes e até certa padronização, dentre os quais encontramos os deuses, Odin deus dos mortos da guerra e tempestades, Thor filho de Odin que era deus do raio e do trovão, Freya deusa do amor e da beleza, Freyr deus da fertilidade e da paz, e junto com Odin foi um dos deuses mais venerados pelos germanos.
O culto germânico era normalmente guiado por um druida, algo semelhante ao padre na religião católica. O druida era encarregado de realizar todos os rituais e escrever as runas, que alem de fazerem parte de seu alfabeto tinham uma conotação mágica.
Os germanos como um povo guerreiro, acreditavam que existia um paraíso, esse paraíso era o local aonde todos os guerreiros mortos em batalhas iam para descansar, esse local era conhecido como Valhalla, e só iriam para esse paraíso os escolhidos pelas Valquíria, guerreiras que levam as almas dos mortos para o outro mundo para seu descanso eterno.
7 ECONOMIA
Como qualquer civilização de sua época os povos germânicos eram voltados para a guerra e sua economia vinha dos adventos dela, porém alguns povos principalmente aqueles que habitavam a regiões razoavelmente planas, tinham a agricultura como forma de sobrevivência, apesar de possuírem terras não muito férteis, que inclusive paravam as guerras para fazer a colheita das mesmas, plantavam desde trigo, aveia, linho, além do domínio sobre a pecuária, dentre esses boi cavalos e ovelhas.
Como uma civilização guerreira, detinham um grande avanço na confecção do metal, da manipulação do ferro e do bronze, pois eram seus principais instrumentos e eram utilizados em suas armas, e a mais comum era o machado ,também eram mestres na manipulação do ouro, devido os adornos que utilizavam.
O comércio dos ditos bárbaros com os povos do mediterrâneo existiu desde sempre, e esse foi um dos motivos das penetrações germânicas no império romano, juntamente com a necessidade de terras.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, quando eles os povos germânicos são chamados de bárbaros ,rudes, e não civilizados, estamos totalmente equivocados, apesar de eles estarem em constantes conflitos com os romanos, detinham uma cultura e religião riquíssima e que esta presente até hoje, essa denominação bárbaro, não cabe a nenhum povo da idade antiga especialmente aos germânicos.
Nesse momento gostaria de deixar um apelo, apesar de existirem diversas obras sobre os bárbaros, a maioria delas são focadas somente nas invasões dos mesmos ao império romano, alem de outras focadas na idade média, mas aparentemente a idade antiga parece ter sido esquecida pelos intelectuais brasileiros, transformando assim qualquer trabalho a respeito da mesma com poucas referências, além de não encontrarmos fontes primárias para a pesquisa do assunto.
9 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
GUERRAS, Maria Sonsoles. Os Povos Bárbaros, São Paulo: Ática, 1987, p.87
GIORDANI, Mário Curtis. História dos reinos Bárbaros, Petrópolis: Vozes Ltda. 1970, p.373
SITES
http://pt.wikipedia.org/wiki/Godos Acesso em: 20/06/2012







[1] "barbarous", em Oxford English Dictionary, 2.ª Edição, 1989,
Por: Guilherme José da Silva Duarte


MARCELL MAUSS: Contribuições para as ciências humanas


RESUMO
O artigo proposto faz uma investigação sobre o antropólogo francês Marcel Mauss e algumas de suas obras. Figura chave para etnologia francesa, Marcel Mauss, vem sendo alvo de inúmeras pesquisas científicas. Sua obra vem sendo retomada depois de um período em que Mauss foi tachado de “não sistêmico”, devido a abrangência de sua obra.
Depois de uma breve análise de sua biografia, o artigo em questão, busca compreender melhor suas obras “O Ensaio sobre a dádiva” e “As técnicas corporais”. Ambas são obras de cunho antropológico, e é justamente neste ponto que concentramos nossa pesquisa. A problemática a ser respondida é: As obras de Mauss, suas concepções e estudos servem apenas à antropologia?
Em nosso artigo pudemos concluir que suas contribuições vão além da antropologia, essas contribuições perpassam pela história, sociologia, geografia, filosofia, biologia, psicologia, entre outras áreas.
Palavras-chave: Marcel Mauss, Ensaio sobre a dádiva, Antropologia
ABSTRACT
The proposed article makes a research on the French anthropologist Marcel Mauss and some of his works. Key figure in French ethnology, Marcel Mauss, has been the subject of numerous scientific studies. His work has been resumed after a period in which Mauss was branded a "non-systemic" because the scope of his work.
After a brief review of his biography, the article in question, seeking to better understand their works "The Essay on the gift" and "body techniques". Both are works of anthropological, and it is precisely at this point that we focus our research. The issue to be answered is: The works of Mauss, his concepts and studies serve only to anthropology?
In our article we concluded that their contributions go beyond anthropology, these contributions pervade the history, sociology, geography, philosophy, biology, psychology, among other areas.
Keywords: Marcel Mauss, Essay on the gift, Anthropology
1- INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo analisar os fatos principais da biografia de Marcel Mauss, bem como as suas principais obras com uma analise do Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas do ano de 1925, além de apresentar contribuições de Mauss para a consolidação da antropologia enquanto ciência e também as suas contribuições para a sociologia e analisar o papel de Marcel Mauss na história da antropologia mundial.
Portanto é clara a importância o estudo sobre a vida e obra de Mauss, pois além de ser um antropólogo foi sociólogo, assim sua obra dialogou com diversas áreas do conhecimento como psicologia, história, filosofia e fisiologia inaugurando uma nova forma de se fazer a antropologia.

2-BIOGRAFIA

Descendente de uma família hebraica Marcel Mauss nasceu em 10 de maio de 1872 em Épinal na França, foi um sociólogo e antropólogo considerado o pai da etnologia francesa. Seu trabalho foi marcante na área da sociologia e antropologia social, a qual teve uma enorme influencia de seu tio Emile Durkheim. Marcel estudou filosofia em Bordeaux, cidade onde seu tio lecionava, após isso mudou para Paris onde estudou linguagem comparativa do sânscrito. Foi membro associado e editor da revista Anné Sociologique[1] junto com outros grandes nomes franceses como, Henri Hubert, Robert Hertz, Maurice Halbwachs alem de seu tio.
 Já na vida acadêmica, ocupou diversos cargos dentre eles professor de religião primitiva no ano de 1902 na Ecole Pratique des Hautes Études. Fundou o Instituto de Etnologia da Universidade de Paris no ano de 1925 e lecionou no Collège de France no período de 1931 a 1939, sendo responsável pela formação etnólogos brilhantes, reafirmando o Collège de France como uma das mais respeitadas escolas de antropólogos.
Mauss era socialista, foi adepto dos os ideais de seu amigo Jean Léon Jaurès. Com 43 anos Mauss alistou-se na 1ª Guerra Mundial como voluntario, devido a sua idade e sua competência em falar inglês foi soldado interno ficando na base militar, no pós-guerra foi contra a fundação do Partido Comunista Frances e lutou para que a imagem de seu amigo Jaurès não se apagasse no partido socialista francês o qual Mauss foi militante, e chegando a ser redator do jornal Humanité[2] fundado pelo seu amigo.
Fazendo um breve comentário de suas principais obras, em 1920 escreveu o texto “A Nação” onde relata a experiência negativa e critica da guerra vivida por ele, sendo nacionalista foi impulsionado pelo contexto histórico vivido. O interessante dessa obra é que esta é uma das ultimas a serem descobertas, pois estava perdida no meio de cartas deixadas pelo mesmo. No ano de 1925, Marcel Mauss escreve sua mais brilhante e reconhecida obra “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”. E finalizando suas principais obras escreve “As técnicas corporais” em 1934, onde faz uma pesquisa bastante elaborada observando o corpo em diversas culturas e fases da vida. Mauss escreveu inúmeras obras, as citadas aqui são a de maior reconhecimento. Muito do seu trabalho vem sendo retomado hoje, reafirmando Mauss como um dos pilares da antropologia francesa e mundial.
No fim de sua vida, Mauss defrontou-se com diversos problemas pessoais, como casar-se tardiamente no ano de 1934, já com 62 anos. Esse fato evidencia a extrema dedicação política e acadêmica de Mauss, deixando de lado alguns velhos preceitos de sua época, como casar ainda jovem.
Já próximo do fim de sua vida, Mauss dedica-se a enfermagem, justamente devido o acidente de sua esposa que logo após o casamento ficou doente e dentre outros motivos também por ter reunido glórias e fracassos durante sua vida. Assim no dia 10 de fevereiro em Paris no ano de 1950 ele morre de causas não determinadas.
3-A IMPORTÂNCIA DE SE ESTUDAR MAUSS
            O estudo da obra de Mauss vem se tornando “obrigatória” entre os antropólogos modernos. Os temas abordados, em tais obras, são diversos, vão de análises sobre corpo, troca, magia, noção de pessoa, noção de morte e tantos outras.  Justamente por esta abrangência Mauss é taxado de não ser sistêmico, o que pode se mostrar como um problema para um pesquisador. Por outro lado é precisamente nessa abrangência que encontramos sua grande importância.
            Sobre a importância da obra de Mauss, Aline Trigueiro diz:
A análise dos textos de Marcel Mauss constitui-se em uma referência importante àqueles que buscam compreender como se conforma o processo de interação entre o Indivíduo e a Sociedade, ou ainda, como o mundo social, a partir de sua dimensão simbólica, é capaz de estruturar as práticas e as representações sociais. O autor em destaque segue uma linha de pensamento que tem por objetivo resgatar a percepção da totalidade, ressaltando a preeminência da sociedade frente a uma corrente analítica na qual prepondera a perspectiva individualista – aquela que concebe a sociedade como resultante, apenas, da associação de indivíduos. [TRIGUEIRO, 2003, p. 9]

            Essa abrangência de estudo de Marcel Mauss fez com que sua importância se alastrasse não apenas pela antropologia, mas também por outras áreas do conhecimento como a psicologia, história, filosofia e linguística por exemplo. Essa busca pela compreensão da totalidade fez com que Mauss dialoga-se com outras áreas do conhecimento. Em seu ensaio “As técnicas corporais” Mauss apresenta um dialogo claro entre a biologia, psicologia e sociologia.  Mirela Berger nos fala sobre isso, que ela classifica como Unidade Bio-Psíquica-Social do Homem:
Mauss empreenderá por volta de 1926 uma famosa discussão sobre as técnicas corporais, tentando relacionar por um lado o fisiológico e o social, indivíduo e o grupo. Esta discussão aparecerá em toda a discussão que ele faz sobre o corpo e depois nos embates que ele travará com o culturalismo americano. [BERGER, 2007, p. 3]
      
Em “As técnicas corporais” somos apresentados a uma noção contrária ao nosso sentimento de liberdade corporal. O que nos pode parecer uma manifestação única e independente na verdade é algo a qual somos educados.

O corpo enquanto artefato cultural. Ele diz que as ciências humanas deveriam olhar o modo pelo qual toda sociedade impõe ao indivíduo um uso rigoroso do seu corpo. É por meio da educação das necessidades e das atividades corporais que a estrutura social impõe sua marca sobre os indivíduos. [BERGER, 2007, p. 3]

4-ANÁLISE DA OBRA ENSAIO SOBRE A DÁDIVA           
Aqui faremos uma análise sobre, o que para muitos é a obra-prima de Mauss, o “Ensaio sobre a Dádiva”. Primeiro é necessário que entendamos o que Mauss chama por dádiva. Em uma análise simplista, a dádiva seria troca, mas daí é necessário que se entenda troca de forma mais ampla, tanto no sentido e quanto nos lugares onde se aplica, segundo Marcos Lanna:
[...] Mauss já definia a dádiva de modo amplo. Esta inclui não só presentes como também visitas, festas comunhões, esmolas, heranças, um sem-número de “prestações” enfim – prestações que podem ser “totais” ou “agonisticas”. Creio ser fundamental notar como Mauss entendia até mesmo os tributos como forma de dádiva. [LANNA, 200, p.175]
Em principio, para provar suas concepções sobre a dádiva, Mauss vai assumir em seu trabalho o método comparativo, ou seja, comparar diversas etnias e suas manifestações culturais, espirituais e comerciais. Suas bases são a Polinésia, Melanésia e Noroeste americano. Para aplicar, o que o próprio Mauss chama de “método de comparação rigoroso”, ele vai fazer uso do trabalho de inúmeros outros antropólogos como Malinowski, Franz Boas e A. R. Radcliffe-Brown. Ele vai utilizar-se da descrição feita por esses de cada etnia para encaixar sua concepção de dádiva. Mauss não esteve muitas vezes em pesquisa de campo, mas compensou isso tornando-se um brilhante analista etnográfico.
No primeiro capítulo, intitulado “As dádivas trocadas e a obrigação de as retribuir”, Mauss vai descrever, principalmente, como algumas sociedades tribais da Polinésia lidam intra e entre si. Ele demonstra que as dádivas vão atuar em todos os aspectos da vida dessas sociedades. As dádivas acontecem entre homens de mesma etnia, homens de etnia diferentes, homem e mulher, homem e sociedade, homem e “família”, homem e natureza, e homem e deuses. Exemplificando, apresentamos a noção de Mauss sobre a esmola:
A esmola é o fruto de uma noção moral da dádiva e da fortuna, por um lado, e de uma noção de sacrifício, por outro. A liberdade é obrigatória, porque Némesis vinga os pobres e os deuses do excesso de felicidade e de riqueza de certos homens que delas se devem desfazer: é a velha moral da dádiva transformada em principio de justiça. [MAUSS, 2002, p.76]
Mauss vai associar as dádivas ao que ele vai chamar de contrato e explicar que estes, por sua vez, vão acabar por gerar alianças. A manutenção dessas alianças é justamente um dos motores da necessidade de reciprocidade das dádivas. Muitas vezes, ou na maioria das vezes, a obrigação da reciprocidade nem é notada, pois já está impregnada na cultura dos povos analisados. Se para Mauss o nosso corpo é moldado para agir de acordo com as determinações da sociedade (assunto a ser debatido posteriormente, neste mesmo trabalho), aqui também a dádiva é doutrinada.
No segundo capítulo intitulado “Extensão deste sistema. Liberidade, honra, moeda”, Mauss começa o texto destacando as regras da generosidade entre os Andamans. Ele continua sua analise sobre as trocas e destaca de diferentemente das sociedades modernas, ali o objetivo antes de tudo é moral. Não é que não haja o caráter comercial nas relações analisadas por Mauss. A concepção de moeda, por exemplo, vai sofrer critica por Malinowski, reforçada recentemente por Marcos Lanna:
O próprio Mauss (1974, p. 75) nota que Malinowski criticou, a meu ver corretamente, a sua concepção de moeda, pois esta implicaria apenas a noção do meio de troca e não do padrão geral de valor. Isto é, Mauss não parece ciente da especificidade da moeda capitalista, como um “valor que se generaliza” de modo não hierárquico. Nas sociedades não-capitalistas, os valores só se generalizam de modo hierárquico (sempre no sentido de Dumont). Isto é, o valor de certos objetivos pode não ser no sentido de sua generalização quantitativa, como padrão ou medida de troca. Por exemplo, seu valor pode estar em uma capacidade emblemática para representar todo um clã ou linhagem (caso das esteiras polinésias mencionadas por Mauss). Nesse caso, tratam-se de valores “subjetivos e pessoais”, frequentemente inalienáveis. O que distingue a moeda capitalista das “moedas” hierárquicas é que estas são menos alienáveis. Claro que elas também não são totalmente inalienáveis, pois por definição são passíveis de serem trocadas, apesar de essa troca ser sempre cercada de proibições e condições (ocorrer só quando há um casamento real, por exemplo). [LANNA, 200, p.181]
Mauss segue por todo segundo capítulo analisando estas mesmas relações sobre as sociedades melanésias. Desta forma ela vai estruturando seu sistema de dádivas. Demonstrando sua presença nas mais variadas sociedades “primitivas” desta região. Até chegar à análise do caso do Noroeste americano (Alaska e Colúmbia Britânica). Onde ele pondera sobre As três obrigações: dar, receber, retribuir. Sobre a obrigação de dar, Mauss comenta:
A obrigação de dar é a essência do potlatch.[...] Em todas essas sociedades as pessoas apressam-se a dar. Não há um instante que ultrapasse o habitual, mesmo fora das solenidades e ajuntamentos de inverno, onde não sejamos obrigados a convidar os nossos amigos, a partilhar com eles as fortunas da caça ou da colheita que venham dos deuses e dos totens. [MAUSS, 2002, p.115-118]
Interessante notar que a obrigação de dar nasce do fato do individuo ou grupo antes ter recebido a dádiva. A caça e a colheita, no caso, são dádivas concedidas por deuses ou totens, daí a obrigação de partilhar. Entramos assim na segunda obrigação, receber. Sobre esta obrigação, Mauss diz:
A obrigação de receber não é menos constrangedora. Não se tem o direito de recusar uma dádiva, de recusar o potlach. Agir assim é manifestar que se tem medo de retribuir, é recear ser rebaixado quando não se retribui. Na realidade é estar já <<humilhado>>.[MAUSS, 2002, p.121]
A partir do momento em que você recebe a dádiva, se vê diante da terceira obrigação, retribuir. Sobre isso, Mauss diz:
A obrigação de retribuir é todo o portlach [...] normalmente, o portlach deve ser retribuído com juros, e mesmo qualquer dádiva deve ser retribuída de forma acrescida. [...] A obrigação de retribuir dignamente é imperativa. Perde-se a <<face>> para sempre se não se retribuir, ou não se destruírem os valores equivalentes. [MAUSS, 2002, p.123]
            A obrigação de retribuir vai criar o ciclo das dádivas, pois assim se ira retribuir para alguém que deverá dar receber e retribuir. No caso das dádivas oferecidas aos deuses, essas se dão na forma de sacrifícios ou destruição.
            Mauss vai concluir essa primeira parte do seu trabalho dizendo:
O número, a extensão, a importância destes factos autorizam-nos plenamente a conceber um regime que deve ter sido o de uma enorme parte da humanidade durante uma fase muito longa de transição e que subsiste ainda noutros lugares, que não apenas nos povos que acabamos de descrever. Permitem-nos conceber que este principio de troca-dádiva deve ter sido o das sociedades que ultrapassaram a fase de <<prestação total>> (de clã a clã, e de família a família) e que no entanto ainda não chegaram ao contrato individual puro, ao mercado onde corre o dinheiro, à venda propriamente dita e sobretudo à noção de preço calculado em moeda pesada e titulada. [MAUSS, 2002, p.141]
No terceiro capítulo denominado “Sobrevivência destes princípios nos direitos antigos e nas economias antigas”, Mauss continua sua análise da relação de dar e receber e como esses valores se perduraram para as civilizações romana antiga, hindu, germânica e também um breve comentário sobre os célticos e chineses.
No começo deste capitulo notamos como Mauss era brilhante, observando o seguinte trecho (2002, p. 143) “[...] para medirmos o quanto as nossas sociedades se afastam ou se aproximam destes gêneros de instituições a que chamamos <<primitivas>>”.Mauss já se diferenciava de muitos de sua época, ela já via as ditas sociedades primitivas não como o pitorescos o inusitado, e sim como fontes históricas para se analisar o processo atual em que estamos, ele dava valor a essas culturas pois era um modo de compreender a evolução social ,e ao decorrer da obra ele quer demonstrar como nossos direitos e economias surgiram a partir de instituições antigas.
E para isso ele utiliza do exemplo da sociedade romana antiga onde o processo de dar e receber modificou-se como no caso do Nexum[3],onde a essência do contrato que é dar e receber se distanciou da dádiva das sociedades primitivas  .Também mostra a troca como uma maneira de buscar o que não temos e que nos da prazer ou seja a  res[4], e apresenta como a troca tem um ritual de transmissão de direitos sobre a mesma.
Após apresentar os dados Mauss faz um breve comentário dos dados que ele apresentou, ele demonstra que a partir de comparações que agora a essência da troca se perdeu, mas continua viva e é necessário que haja coisa ou serviço para que haja dádiva e que a coisa ou serviço o obriguem, assim a noção de direito modificou-se bruscamente a partir dos romanos, não é dar e receber naturalmente e sim fazer para receber em troca, como percebemos no trecho (2002, p.153) “[...]Tal como , nos direitos mais primitivos, existe a dádiva , depois a dádiva retribuída, também a em direito romano antigo o pôr em venda e depois o pagamento”. Ainda continuando seus comentários ele apresenta a questão do furto, do julgamento, da compra e da venda. Vemos em Mauss um homem que dialogou com diversas áreas da ciência não só ficando na questão antropológica mais também no direito, na história e na sociologia.
Depois Mauss apresenta noção de direito dos hindus, que devido à falta de fontes esse direito foi mais teórico do que prático, ele explica a chegada dos arianos na região dos Rios Ganges e do Indo, e mostra como a lei da dádiva desapareceu e só sobreviveu com os brâmanes, que para eles a coisa dada produz recompensas em outra vida, então tudo que se é dado irá voltar ao doador como alimentos, ouro, vestuário e etc. A relação de troca na sociedade hindu é muito complicada, pois o sistema de castas é um modo de segregação dessa relação, pois de acordo com eles não se deve relacionar com o inimigo e deve-se tomar todas as preocupações possíveis.
Continuando suas pesquisas, através do direito germânico, que apesar de não deixar marcas muito antigas da sua relação de troca, deixou uma herança de troca voluntária e forçosa que é extremamente importante. A dádiva nessa sociedade não se restringia ao âmbito familiar, pois era através da troca que se comunicavam ,ajudavam e relacionavam. Mauss mostra que ainda em sua época ainda persistia na moral e na economia de aldeias alemãs uma instituição extremamente importante conhecida como gaben[5], que acontecia geralmente em casamentos. Também ressaltou como os germânicos viam perigo na coisa dada ou transmitida, visto que o mesmo termo que significa dádiva na língua germânica significa veneno.
Concluindo seu terceiro capítulo e sua análise das sociedades antigas e seus direitos ele demonstra que na sociedade atual chinesa sobreviveu um pouco dessas noções de direito e troca, visto que até hoje eles reconhecem o vinculo da coisa com o proprietário original. É importante lembrar que Mauss escreveu o livro durante o começo do sec. XIX, os valores de sua época eram diferentes do de hoje, se os costumes aqui retratados não estão totalmente presentes, ainda sim a sua essência sobrevive nos tempos atuais.
Por fim seu quarto capítulo são suas conclusões, primeiramente sobre a moral, que evidenciam o seu lado socialista, pois ele faz diversas comparações do passado com o presente, ele deixa subentendido em sua obra que valores básicos do dar e receber sem ser visto como obrigação deve retornar, ou seja, devemos resgatar a moral do passado,que foi perdido na sociedade capitalista em que ele vivia, o que é evidenciado no seguinte trecho (2002, p.175) “[...] Uma parte considerável de nossa moral e da nossa própria vida permanece sempre nessa atmosfera da dádiva, da obrigação e de liberdade. Felizmente nem tudo está tudo classificado em termos de compra e venda”. Observamos que Mauss se contenta em ver que nem todos os valores da sociedade primitiva foram esquecidos, já que a sociedade liberal que ele vivia trazia a perca desses valores.
Mauss pode ser considerado um homem de visão além comum, pois já via a decadência do homem e de valores que hoje na pós-modernidade é amplamente discutido como a individualização, perca de valores básicos e etc.
Depois ele apresenta as conclusões de sociologia econômica e de economia política que em sua visão através da analise do passado pode sem aplicar aos valores econômicos vigentes em sua época, o que demonstra como Mauss era visionário, mesmo escrevendo sua obra no sec. XX ele buscava no passado uma maneira de entender e melhorar o seu presente.
E por fim a conclusão de sociologia geral e moral, onde ele afirma que os fatos estudados em seu livro são todos fatos sociais totais, e ele ainda diz que a análise de seus estudos poderiam ser mais profundas, porém ele afirma que caberia melhor aos etnógrafos e historiadores analisar esses seus objetos de investigação juntamente com outras áreas da ciência como a psicologia .Todos os estudos ele  considerou  necessário estudar os fatos sociais , pois só assim pode se entender como os homens tomam consciência de si próprio na sociedade.
5-ÁS TÉCNICAS CORPORAIS
O livro “As técnicas corporais”, foi escrito em 1934, é uma pesquisa bastante elaborada em que Mauss observa o corpo humano em diversas culturas e fases da vida, obra é dividida em quatro capítulos sendo um grande marco de sua antropologia.
No primeiro capítulo, para o antropólogo Marcel Mauss, as técnicas corporais são compreendidas das maneiras como os homens, sociedade por sociedade utilizam seus corpos. Este por ser etnólogo tinha esta sensibilidade de detectar nos jeitos das pessoas uma diferenciação de uma das outras. Eis ai a evidência da técnica, como um giro de mão é lentamente aprendido.
Toda técnica propriamente dita tem sua forma. O mesmo acontece como nosso corpo, e cada sociedade têm seu estilo próprio. Observar-se que Marcel Mauss tinha um olhar clinico para os detalhes, as sutilezas, os movimentos, que caracterizam cada ser e cada sociedade.
Uma narrativa por ele observada nos hábitos foram nas crianças, que quando estas ao se sentarem à  mesa, este era capaz de identificar suas origens pelo modo de destas agirem. Quando uma criança inglesa senta à mesa e esta não comendo, fica com as mãos nos joelhos, e quando está comendo, coloca os cotovelos junto ao corpo, já as francesas colocam os cotovelos na mesa abertos, pois não sabe se dominar e o habito as tornaram assim.
Estes hábitos não variam simplesmente com os indivíduos e suas imitações, mas com as sociedades, as educações, as conveniências e as modas.
Um fato importante observado sobre a arte de utilizar o corpo humano, as crianças em especial tem uma capacidade muito grande de imitar, bem como os adultos apesar de sua consciência, também imitam coisas que tiveram êxito e confiam serem bons para eles também.
Marcel Mauss, como observador continuo dos hábitos, pôde descrever todos os sentidos técnicos, atos físicos e atos mágico-religioso, e viu nestes a necessidade da divisão destes atos para técnicas, chegando então as técnicas corporais,segundo Marcel Mauss, o corpo é o primeiro e o mais natural instrumento do homem, o primeiro e natural objeto técnico.
Em seu segundo capítulo, princípios de classificação das técnicas corporais, Marcel Mauss apresenta que as noções de técnicas corporais que se dividem e variam por sexo e idade, diversificando através de inúmeros exemplos, também apresenta que as técnicas corporais podem ser adquiridas através de treinamento e finaliza concretizando que as mesmas tem diversas formas de transmissão desde cultural até educacional.
Primeiro ele explicita a divisão das técnicas corporais entre os sexos, utiliza do modo como os homens e mulheres fecham o punho como exemplo, o homem costuma cerrar o punho com o polegar pra fora, já a mulher costuma cerrar com o polegar para dentro, dentre os motivos que ele explica esse fato, é que a mulher não é criada para a briga, e ainda mostra como a mulher é mais fraca nas questões que envolvem força em geral. Para ele existe a sociedade dos homens e das mulheres, assim talvez seja por uma questão biológica as mesmas serem mais fracas, e finalizando Mauss deixa uma observação que para um estudo mais profundo, seria necessária colaboração de diversas áreas do conhecimento como a psicologia, fisiologia e sociologia. Nota-se nesse capitulo certo machismo por parte de Mauss, porém baseado no contexto e época em que o livro foi escrito, esse machismo não passa de um comportamento normal.
Segundo ele mostra as variações corporais de acordo com a idade, em seu exemplo mostra a habilidade das crianças de acocora-se, que é sentar sobre os calcanhares, os adultos europeus já não sabem como fazer isso, porém esse comportamento é algo cultural, ele mostra através de experiência pessoal, que os australianos brancos quando descansavam punhavam-se sobre os calcanhares, assim tinham uma vantagem sobre Mauss que tinha que ficar com os pés na lama. Esse modo de agir em certas épocas fora considerado um defeito dos membros inferiores, porém o que os europeus consideravam como um modo hereditário, na verdade é de ordem fisiológica cultural e sociológica. Observa-se assim nesse capítulo que Mauss, apesar de viver em uma época em que o etnocentrismo estava em alta, ele já detinha uma visão mais humana que os demais.
Depois Mauss mostra que as técnicas corporais podem ter relações com o rendimento, ou seja, exemplifica que o treinamento de montar uma máquina nada mais é que uma busca de um rendimento, esse processo de ensino foi passado de homem pra homem e para os seus filhos voluntariamente, através do que ele chama de normas humanas do treinamento humano.
E por ultimo mostra como é a transmissão da forma das técnicas, para Mauss esse é um novo campo de estudos, pois é necessário se observar e fazer o que compõe a educação do corpo de todas as idades e sexos. O exemplo que ele utiliza é de como reconhecer um muçulmano piedoso, mostrando que ele fará o possível e impossível para não servir-se com a mão direita, e nem tocar a comida com a mão esquerda. Para saber o porquê dele fazer isso, Mauss diz que não é a fisiologia nem a psicologia que vão dizer e sim que é um modo cultural do como impuseram-lhe certas tradições.Finalizando diz que é extremamente importante estudar a modos de treinamento e de imitação em geral.
Apesar de ser um breve capítulo Mauss demonstrou como o modo comportamental humano é influenciável, não só biologicamente, mas também através da idade e das tradições a qual nos vivemos, nós somos simplesmente frutos do treinamento em nossa sociedade, valores que são transmitidos de gerações em gerações.
Em seu terceiro capítulo de As Técnicas Corporais (1934), Marcel Mauss, nos apresenta os tipos de técnicas corporais humanas, suas distinções e variações de acordo com a sociedade a qual pertencem. Seguindo uma lógica, em busca de facilitar a didática, Mauss enumera e classifica as técnicas pautado pelas fases etárias da existência humana, ou seja, do seu nascimento até a fase adulta.  Interessante notar aqui sua herança positivista, usando das ciências biológicas e de saúde para explicar as ciências humanas.
     Abaixo iremos fazer um resumo das considerações de Mauss sobre as técnicas corporais seguindo a ordem por este proposta:
1.      Técnicas do nascimento e da obstetrícia: primeiramente temos uma breve constatação de como a forma dos partos pode variar de cultura para cultura. Temos como exemplo no próprio texto, o parto ereto (comum em algumas regiões da Índia) e o parto deitado sobre as costas (mais usuais em sociedades modernas). Um fato interessante é notar em Maussum certo relativismo cultural, ao menos quanto as técnicas corporais. Neste trecho do texto ele mesmo nos alerta que o fato de não nos identificarmos com uma forma de parto, por exemplo, não torna a nossa maneira mais normal que as demais.
2.      Técnicas da infância – Criação e alimentação da criança: Maus começa suas considerações nos apresentando a importância do transporte das crianças. Ele exemplifica o caso de crianças que são carregadas por suas mães durante dois ou três anos. O contato maior com a mãe e a ginástica (que se tornará essencial para sua sobrevivência) irão criar um estado psíquico não existente em crianças não carregadas. Mauss continua sua análise sobre a infância relatando a importância da amamentação como controle da reprodução. Ele também levanta a questão das crianças criadas com berço e sem. Finalmente ele chega as considerações sobre um momento de maior independência destes indivíduos, o desmame. Agora a criança sabe se alimentar e é educada quanto a andar, exercitar a visão, audição, ritmo... Interessante é a constatação de Mauss de como se dá esse processo de aprendizagem. Ele explica que na maioria das vezes essa educação do corpo e gestuais se dará através da dança e música.
3.      Técnicas da Adolescência: Para Mauss esse é o período de mais importante quanto à educação do corpo. Segundo Mauss é nesse momento que os indivíduos irão aprender as técnicas corporais que conservarão por toda a vida.
4.      Técnicas da idade adulta
4.1.   Técnicas de sono: Aqui ele enumera as formas como algumas sociedades lhe dão com o sono. Povos de esteira e sem esteira, que usam travesseiro e sem travesseiro, que dormem próximo ao fogo ou que não necessitam de fogo, o dormir em pé ou a cavalo.... São inúmeras as formas de sono. Elas variam de acordo com as necessidades de cada sociedade. Mauss ainda nos lembra de como essas variações exercem influencia e efeitos sobre a biologia dos homens.
4.2.   Vigília – Técnicas de repouso: Sobre as formas de repouso Mauss nos apresenta uma infinidade de formas. Ele ainda se utiliza da visão de Graebner, separando as sociedades acima do 15 grau de latitude das demais. Aqui podemos notar um fascínio pelo inusitado, pois há uma ênfase sobre certos povos habitantes da África niólitica e uma parte da região de Tchad, até Tanganica. Esses homens fazem o repouso em pé, apoiados apenas por uma das pernas. A explicação encontrada por Mauss é a de que isso se dá pela necessidade de sentinela e função de pastor.
4.3.   Técnicas da atividade, do movimento: As técnicas citadas por Mauss são as seguintes:
4.3.1.     Andar
4.3.2.     Corrida
4.3.3.     Dança
4.3.4.     Escalar
4.3.5.     Natação
4.3.6.     Movimentos de força
4.3.7.     Segurar
4.4.   Técnicas de cuidados corporais:
4.4.1.     Esfregamento e lavagem: Uma curiosidade é que aqui Mauss cita os indígenas brasileiros que se utilizavam de pau-brasil para limpeza.
4.4.2.     Cuidados da boca – Técnicas de tossir e de cuspir
4.4.3.     Higiene das necessidades naturais
4.5.   Técnicas do consumo
4.5.1.     Comer
4.5.2.     Ausência do uso da faca
4.5.3.     Beber
4.6.   Técnicas de reprodução: Neste ponto além da técnica em si Mauss nos coloca frente a uma moral sexual que irá ajudar a reger  a ação.
4.7.   Técnicas dos cuidados, do anormal.
Depois de apresentar todas essas técnicas, Mauss finalmente encerra este capítulo partindo para as considerações finais.
Em suas considerações finais, Marcel Mauss nos fala como e porque acontecem os atos sociais. São praticados (os atos sociais), pelo indivíduo, para a autoridade social. Enfatiza que, embora na sociedade haja ordem e disciplina, também nessa mesma sociedade temos estupidez e anormalidades. Para Mauss os fatos psicológicos, através da disciplina formam os atos sociais.
Mauss segue o viés etnológico da comparação entre as raças e povos através da suas possibilidades psíquicas. Em todas as culturas, a educação e a disciplina são os fatores de adaptação determinantes dos corpos ás suas devidas aplicações na sociedade. Esse princípio de educação, disciplina, raciocínio, leva ao conceito de “sangue frio”, e é utilizado para classificar e separar as sociedades em “avançadas e/ou “primitivas”, para Mauss as sociedades ditas primitivas apresenta reações mais emocionais, em sua vida social e mental, ao contrário das sociedades avançadas que são racionais. As questões de técnicas corporais, da respiração em partículas (o ioga praticado na China e Índia), também recebe importância e ênfase, do sociólogo Mauss, como importantes em reflexoterapia, para se compreender novos fatos.
6-CONCLUSÃO
Neste pequeno artigo, buscamos analisar a vida e parte da obra de Marcel Mauss. Sua obra em si, mostrou-se bastante vasta e profunda, resultado de uma vida bastante dedicada as ciências, em forma geral.
As análises presentes no “Ensaio sobre a Dádiva” nos colocam diante de sociedades que adotam sistemas de troca que podem revelar o passado das sociedades modernas. As generalizações se mostram muitas vezes perigosas, então nem mesmo Mauss afirmar ser esse o sistema presente anteriormente em todas as sociedades. Os indícios são fortes o suficiente para que sua teoria seja aceita.
Em “As técnicas corporais”, Mauss nos colocou diante de algo pouco estudado em sua época. Ele nos mostra que nossas expressões corporais, em boa parte, nos são impostas através da moral social. O corpo, neste sentido, não seria apenas pessoal, mas social, já que este irá demonstrar e expressar valores da sociedade que o doutrinou.
Finalmente podemos pensar sobre as contribuições de Mauss para com as ciências humanas. E estas são ilimitadas, ou ao menos ainda não se tem dimensão dos seus limites. Mauss hoje é alvo de intensos estudos por parte de antropólogos e sociólogos, mas têm suas contribuições nas mais diversas áreas. Suas noções de moral nas sociedades tribais pode ser alvo da análise de na filosofia, suas descrições destas mesmas comunidades tanto servem de material para geografia, quanto pra história e sociologia além da própria psicologia, a qual Mauss demonstrava um extremo fascínio.


7-Referências
BIBLIOGRÁFICAS
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa: Edições 70, 2002. 200p
BRUMANA, Fernando Giobelina. Antropologia dos Sentidos: introdução às ideias de Marcel Mauss. São Paulo: Editora Brasiliense S. A., 1983. 104 p.
FOURNIER, Marcel. Para reescrever a biografia de Marcel Mauss. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.18, nº 52. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v18n52/18063.pdf > Acesso em: 06/11/2012                                                                              
FOURNIER, Marcel. Marcel Mauss ou a dádiva de si. 1993. Disponível em: <http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_21/rbcs21_09.htm> Acesso em: 15/11/2012
LANNA, Marcos. Nota sobre Marcel Mauss e o ensaio sobre a dádiva. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, nº 14, p.173-194, JUN. 2000. Dísponível em <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n14/a10n14.pdfAcesso em: 16/11/2012
BERGER, Mirela. Introdução á obra de Marcel Mauss. 2007. Disponível em <http://www.minosoft.com.br/mirela/download/introducao_a_obra_de_marcel_mauss.pdf> Acesso em: 27/09/2012
MAUSS, Marcel. As técnicas corporais. 1934. Disponível em <http://www.4shared.com/office/XOBrNpWW/livro_-_antropologia_ii_-_as_t.html> Acesso em: 27/09/2012
TRIGUEIRO, Aline. Uma análise introdutória à noção de fato social total em Marcel Mauss. Revista Científica Augustus, Rio de Janeiro, vol. 8, n. 17, jul./dez. 2003. Disponível em < http://www.unisuam.edu.br/augustus/index.php?option=com_content&view=article&id=195:uma-analise-introdutoria-a-nocao-de-fato-social-total-em-marcel-mauss&catid=51:edicao-17-artigos&Itemid=85> Acesso em: 27/09/2012
SITES


[1] Revista fundada em 1898 por seu tio Emile Durkheim, publicada anualmente que perdurou até 1925
[2] O jornal pertenceu ao Partido Socialista Francês até 1920, quando existiu a separação entre o mesmo e o Partido Comunista Francês, por curiosidade o jornal é até hoje publicado, porém não mais ligado a nenhum partido político.
[3] Termo latim que de acordo com Mauss (2002, p. 145) significa vínculo.
[4] Termo latim que Mauss (2002, p.148) define como aquilo que dá prazer a outro, coisa que é marcado com o selo de propriedade de alguém.
[5] Termo alemão que significa dar, presentear. Disponível em <http://pt.bab.la/dicionario/alemao-portugues/gaben acesso em 10/11/2012>
Por: Guilherme José da Silva Duarte  & Weslly Leite Santana.