RESUMO
O presente trabalho tem
como objetivo trazer em voga, através dos livros e ensaios do prof. Alexander
Dugin, a raiz dos conflitos contemporâneos, além de expor algumas movimentações
políticas no cenário internacional. Colocaremos em amostra algumas
movimentações que tem ocorrido em âmbito global. Principalmente os movimentos
anti-liberais, dos quais trataremos aqui.
PALAVRA-CHAVE:
Nova
Ordem Mundial, Atlantismo, Eurasia, Alexander Dugin, Quarta Teoria Política.
ABSTRACT
The present work
aims to bring into vogue, through books and essays by Prof.. Alexander Dugin,
the root of contemporary conflict, and exposes some political movements in the
international scenario. We'll put some sample transactions that have occurred
internationally. Especially the anti-liberal movements, which will be discussed
here.
KEYWORD: New World Order, Atlanticism, Eurasia, Alexander Dugin, Fourth
Political Theory.
INTRODUÇÃO
O
consumo exacerbado das massas determinado a perca de valores antes tidos como sagrado, significou no mundo uma
derrocada espiritual até onde se encontra o homem pós-moderno, um mero
indivíduo programado apenas para satisfazer seus desejos triviais. Desde o fim
da idade média, o mundo conheceu muitas revoluções, aquelas que guiariam o
homem a um enorme avanço tecnológico, ao individualismo, em detrimento a sua
origem, suas tradição, a sociedade se viu despida do que a unia no sentido
coletivo, seria como se um samurai do Japão feudal abandonasse sua espada--eis
o homem da atualidade.
Trataremos
neste artigo alguns pontos e contrapontos que ajudam a dar uma luz nos
bastidores de embates históricos. Uma amostra, sob a perspectiva de Alexander
Dugin, um escritor russo que, talvez dentro de alguns anos, poderá chacoalhar o
mundo através suas teorias bombásticas, devido a sua voz ativa no governo russo
e em boa parte do leste europeu.
A NOVA ORDEM MUNDIAL
No
mundo ocidental, as gerações das ultimas décadas estiveram habituadas numa paz
relativa, a grande maioria conheceu apenas o liberalismo como baluarte político
- seu caráter sedutor esta inserido nas promessas de progresso, difundida pelas
grandes marcas dominantes, portanto, estas gerações estiveram alheias às tramas
que se desenrolaram nos últimos anos. Não se reconhecem pelo coletivo, mas sim,
pelo desejo egoísta de se lançarem como arautos desta nova ordem. Uma geração
que, sob os auspícios desta nova religião, teve seus sonhos e desejos
vinculados a uma “única” ideologia hegemônica: o neoliberalismo, ou seja, o
novo “Deus” reinante.
No
século XX, marcado por duas grandes guerras, pela guerra fria, a democracia
liberal sobressaiu-se sobre seus concorrentes, a vitória sobre o fascismo em
45, a derrocada do partido comunista com a Perestroika, marcou certo otimismo
por parte de pensadores liberais. Fukuyama, aproveitando-se de uma URSS
moribunda lançara sua tese, “O Fim da História”:
[...] A Tese central do seu
original ensaio propõe, é claro, que a
humanidade atingiu o ponto final de sua evolução ideológica como o triunfo
da democracia liberal ocidental sobre todos os seus concorrentes no final do
século XX. (ANDERSON, 1992, p.11)
Posteriormente,
na guerra do golfo, George Bush (Pai), anunciava uma Nova Ordem Mundial, ou
seja, seria a criação de um modelo hegemônico a nível global, que a partir daí,
policiaria todo o globo. Falar sobre a N.O. M, sem entrar na conspirologia, é
tarefa difícil, mesmo tendo dados valiosos, é importante que foquemos mais em
seu aspecto político. Falamos da centralização do poder que, após a crise de
73, o modelo capitalista/keynesiano passou o cetro do poder para o sistema financeiro mundial. Enfim, dentro na
noção de N.O. M, tudo que tende a se opor a este paradigma é duramente
rechaçado, os nacionalismos, comunismos, teocracias, que ainda persistente em
raríssimas pátrias, amarga duras sanções.
Dentro
desta perspectiva, somos levados a acreditar que não existira nada além do
capitalismo, isso devido seu grande poder de sedução. Mas algo esta mudando,
ainda que na obscuridade, ou seja, ressurge nas cinzas das velhas ideologias,
novos extremos que se oporão a ordem vigente.
A TERRA E O MAR
O
que seria a esquerda e a direita, conservadorismo, e o que nos tomamos por
revolucionário? Seriam noções extremamente distintas, que jamais se
misturariam, ou tomariam emprestadas premissas entre si? Fato é que, no mundo
pós-moderno, as rupturas com o velho, o obsoleto, são evidentes. As antigas
ideologias veem-se desgarradas das utopias, e, portanto, estão procurando, a
qualquer custo, se encaixar na conjuntura atual. Observando através deste
prisma, é preciso tomar cuidado, não se trata de uma mistura sem precedentes,
mas sim, algo extremamente estratégico – houve uma reestruturação, o que não
quer dizer, o fim das dicotomias.
Em
se tratando de forças opostas, seriamos omissos em acreditar que elas estariam
mortas no final da segunda guerra, ou na queda do muro de Berlin, mas os
“derrotados” da história, encontrariam força nos meios obscuros, ou seja,
encontrariam outro meio para atuação, ainda que nas sombras. Dentre vários
teóricos antiliberais, apresentamos Alexander Dugin[1]·,
um dos mais proeminentes pensadores da atualidade - do que poderíamos chamar de
via dissidente. Em seu livro “A Grande Guerra dos Continentes” ele deixa claro
que a razão de os grandes conflitos da atualidade possui raízes profundas:
[...] Na história antiga, as
potências “marítimas” que se tornaram nos símbolos históricos da “civilização
marítima” no seu conjunto foram a Fenícia e Cartago. O império terrestre que se
opunha a Cartago era Roma. As guerras púnicas formam a imagem mais pura da
oposição entre a “civilização marítima” e a “ civilização terrestre”. A
Inglaterra tornou-se, na época moderna e na história recente, o polo “insular” e
“marítimo”, “a senhora dos mares”, à qual se seguiu mais tarde a ilha
continental gigante, a América.
A Inglaterra, tal como a antiga
Fenícia, utilizou em primeiro lugar como instrumento fundamental de dominação,
o comércio marítimo e a colonização de regiões costeiras. O tipo geopolítico
fenício/anglo-saxão engendrou um modelo particular de civilização “de
mercado-capitalista-mercantil” fundando, antes de tudo, sobre interesses
econômicos e materiais e nos princípios do liberalismo econômico. Por
consequência, a despeito de todas as variações históricas possíveis, o tipo
geral de civilização “marítima” está sempre ligado ao “primado econômico sobre o político”. (DUGIN, 2006, p.22).
Partindo
desta analogia, tomamos como “civilização marítima” nos tempos de hoje, o EUA e
a União Europeia como exemplo. Em toda a sua carga ideológica promovida no seu
expansionismo, e as imposições do sistema financeiro, engendrando-se numa
cruzada contra as fronteiras, a soberania nacional, e as diferenças culturais,
em defesa do mercado livre, ao passo que:
[...]
Por antinomia face
ao modelo fenício, Roma representava um exemplo de estrutura
autoritária-guerreira fundada sob uma dominação administrativa e sobre uma
religião civil, sobre o primado do “político
sobre o econômico”. Roma é um exemplo sobre um tipo de colonização
puramente continental, não marítima, mas terrestre, com uma penetração profunda
no continente e a assimilação dos povos submetidos, invariavelmente
“romanizados” depois da conquista. Na história moderna, as encarnações da
potencia “terrestre” foram o Império Russo e também os impérios Austro-Hungaros
e o da Alemanha da Europa Central. A “Rússia/Alemanha/Áustria-Hungria” são o
símbolo essencial da “terra geopolítica” na história moderna. (IDEM).
Partindo
destas premissas, e com todo cuidado para que não cometamos nenhum anacronismo,
percebemos através da analogia feita pelo prof. Dugin, vimos que os eventuais
conflitos, de alguma maneira, possuem conexão histórica, algo como: riqueza x
tradição, sangue x ouro. No cerne dos conflitos atuais, como na guerra do
Iraque, por traz dos interesses de difundir a “democracia”, podemos constatar
também um viés da expansão comercial, em nome do sistema monetário
internacional:
[...] Em 2003, os EUA com o apoio
inglês inicia a invasão no Iraque, contrariando a resolução da ONU, que
negligentemente não toma nenhuma atitude de sanção. Um fator criminoso a mais
nesta invasão é o fato dos EUA ter contratado mais de 100mil mercenários da agencia
Blackwater, que não precisam seguir as normas de guerra estabelecidas pela
convenção de Genebra, o EUA até mesmo enviou mais mercenários que soldados
regulares. Após anos de ocupação, que dura até hoje, o pretexto de Saddam
Huessein ter armas de destruição em massa provou-se mentira. Hoje, companhias
americanas extraem grande parte do petróleo do Iraque, que já se encontrava
fechadas há vários anos para as empresas ocidentais. E toda a infraestrutura
destruída do país esta sendo refeita por empresas americanas e inglesas que
lucraram com contratos milionários do novo governo iraquiano. (SILVA,2011,
p.43)
ALEXANDER DUGIN E O PROJETO EURASIA
O
prof. Dugin, dono de um vasto curriculum, no passado, participara ativamente na
formação do PNB – Partido Nacional Bolchevique –fundado pelo escritor e poeta
Eduard Limonov. O PNB tem como inspiração o movimento homônimo levado cabo
pelos irmãos Strasser e em ideais leninistas. Um socialismo identitário, mas
sem abarcar em pensamentos xenófobos, ou no universalismo trotkysta. Tempos
depois, Dugin se afastara do PNB, dando vazão a seu espirito inquieto, acabou
se aproximando de Vladimir Putin, tendo voz ativa como ideólogo no partido do
atual primeiro ministro russo. O período pós-PNB representou a Dugin uma maior
influência de suas teorias. Em 2002, funda o partido Eurásia, que
posteriormente mudaria para Movimento Eurásia, influenciando vários círculos
políticos na Rússia, leste europeu e em alguns países da Ásia. Este projeto é
uma resposta aos planos atlantistas, principalmente no que tange a
globalização, ou seja, a expansão do idealismo homogeneizador propugnado pelas
oligarquias e corporações neoliberais. O professor acredita que a Rússia terá
um papel importante no tocante do plano eurasiático:
[...]
Uma das ideias basilares do seu pensamento teórico é de que Moscovo, Berlim e
Paris constituem um eixo político “natural”, as teorias de Dugin assentam no
conflito eterno entre a terra e o mar, entre o atlantismo e o eurasianismo, ou
seja, entre os EUA e a Rússia. “Por princípios, a Eurásia e o nosso espaço, o
coração da Rússia, permanecem como a área na qual se encenará uma nova
revolução anti-burguesa e anti-americana”, de acordo com o seu livro “Fundamentos da Geopolítica”,
publicado em 1997, “o novo império eurasiático será construído sob o princípio
fundamental do inimigo comum: a rejeição do atlantismo, do controle estratégico
dos EUA, e na recusa de permitir os princípios liberais nos dominem. Este
impulso civilizacional comum será a base de uma união política e
estratégica.”(Disponível em pt.scribd.com/Ítalo_lima_16)
É
notável que, através dessa acepção, um embate entre o altantismo e o
eurasianismo é iminente. A Rússia como herdeira espiritual da cidade eterna, a
terceira Roma; os EUA, herdeira do idealismo comercial, a nova Cartago.
A QUARTA TEORIA POLITICA
Faremos
uma retomada ao início do nosso artigo, o texto sobre a Nova Ordem Mundial. Lá
citamos que no final do século XX, o liberalismo sobressaiu sobre todas as
outras ideologias clássicas. Alcançado o triunfo, seus defensores, no cume da
vitória, imaginaram-se a vanguarda das décadas vindouras:
[...] O liberalismo, que sempre
havia insistido na minimalização da política, tomou a decisão de abolir a
política completamente após seu triunfo. Talvez isso tenha sido para prevenir a
formação de alternativas políticas e para tornar seu domínio eterno, ou porque
a agenda política havia simplesmente expirado com a ausência de rivais
ideológicos, cuja presença Carl Schmitt havia considerado indispensável para a
construção adequada de uma posição política. Independentemente da razão, o
liberalismo fez tudo o possível para garantir o colapso da política. Ao mesmo o
tempo, o próprio liberalismo mudou, passando do plano das ideias, programas
políticos e declarações para o plano das coisas, penetrando na própria carne da
realidade social, a qual se tornou liberal. Isso foi apresentado não como um
processo político, mas como um processo natural e orgânico. Como consequência
de tal virada histórica, todas as outras ideológicas políticas, lutando
apaixonadamente uma contra a outra durante o último século, perderam sua
vigência. O conservadorismo, o fascismo, e o comunismo, junto com suas
variações secundárias perderam a batalha e o liberalismo triunfante
transmutou-se em um estilo de vida: consumismo, individualismo, e uma iteração
pós- moderna do ser fragmentado e subpolítico. A política se tornou
biopolítica, passando ao nível individual e sub-individual. Acontece que não
foram apenas as ideologias políticas derrotadas que deixaram o palco, mas a
política, enquanto tal, incluindo o liberalismo, que também se retirou. É por
essa razão que a formação de uma alternativa se tornou tão difícil. Aqueles que
não concordam com o liberalismo se encontram em uma situação difícil – o
inimigo triunfante se dissolveu e desapareceu; eles estão lutando contra o ar.
Como se pode engajar na política, se não há política?(Disponível em http://pbpolitica.blogspot.com.br/2012/11/a-quarta-teoria-politica.html)
Dugin
acredita que já não há mais nenhuma necessidade de retomar antigas ideológicas,
uma vez que, elas tiveram seu tempo e sua necessidade de existir, mas encontram
um final, tanto as derrotadas como as vitoriosas, e não se encaixariam nestes
tempos pós-modernos. Recentemente lançara o livro “A Quarta Teoria Política”, nele,
lança um chamado ao desafio de criar algo novo, e que esta resposta estaria na
quarta via política, ou seja, além do liberalismo-fascismo-comunismo. Notadamente,
assim como as diretrizes exposta no Projeto Eurásia, as fichas são jogadas
contra o liberalismo, que é considerado culpado por determinar um fim às
diferenças culturais ao redor do globo, em especial, exemplifica a Rússia:
[...] Para meu próprio país, a
Rússia, a Quarta Teoria Política, entre outras coisas, possui uma significância
prática imensa. A maior parte do povo russo sofre sua integração na sociedade
global como uma perda de sua própria identidade. A população russa havia
rejeitado quase inteiramente a ideologia liberal na década de 90. Mas é também
aparente que um retorno às ideologias políticas não-liberais do século XX, tais
como comunismo ou fascismo, é improvável, já que essas ideologias já falharam e
se provaram historicamente incapazes de se opor ao liberalismo, para não dizer
nada dos custos morais do totalitarismo.(Idem)
Através
desses dizeres, o professor chega aonde lhe interessa: a necessidade de uma
quarta via política, o Nacional Bolchevismo e o Eurasianismo são citados como
alternativas, embora reconheça que, em cada parte do globo, as raízes culturais
são distintas, e devem ser respeitadas, assim, se faria uma multipolaridade
global, ao contrário do mundo unipolar proposto pela nova ordem mundial.
O autor da QTP, não deixa claro que estaríamos
prestes a uma revolução a nível global, mas nos deixa alternativas ao modelo
vigente, sugerindo a necessidade de estarmos a par da situação corrente. Ainda
é cedo para que tiremos uma conclusão exata de suas premissas, sua influência,
apesar de abrangente, ainda esta implícita no meio erudito, salvo exceções,
ainda não alcançou o grito dos populares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em
um mundo atomista, o reino das quantidades, quem se distingue em sua maneira de
pensar e de agir, este é então um dissidente. O modelo corrente delimita, a
qualquer custo, o pensamento e o porquê do existir. O maior trunfo de Dugin
foi, sem dúvidas, alcançando através de suas teorias, incentivando a todos os
que nadam contra a corrente, a desvincular dos erros do passado. Os
Eurasianistas bradam: “O comunismo e o fascismo falharam” [2],
então não há razão para cairmos no “eterno retorno”, seja de que lado estiver,
necessitamos que mudemos o curso do nosso mundo para não abarcamos no niilismo
pós-modernista.
REFERENCIAS:
DUGIN, Alexander,
A Grande Guerra dos Continentes, Antagonista Sociedade Editora, 2010.
ANDERSON, Perry, O Fim da História: de Hegel a Fukuyama, Jorge Zahar Editora, Rio de
Janeiro, 1992.
SILVA, Marcel, Um
Grito de Liberdade: independência ou morte! Independente, São Paulo, 2011.
http://pbpolitica.blogspot.com.br/2012/11/a-quarta-teoria-politica.html Acessado
em 01/12/2012
http://legio-victrix.blogspot.com.br/search?q=A+quarta+teoria+pol%C3%A Acessado em
30/11/2012
pt.scribd.com/Ítalo_lima_16 Acessado em 29/11/2012
[1]
Alexander Dugin, nascido em 1962, é professor de sociologia e diretor do Centro
de Estudos Conservadores da Faculdade da Universidade Estatal de Moscou, Doutor
em Ciências Políticas, fundador da Escola Moderna de Geopolítica Russa e líder
do Movimento Eurásico. Em 1999 foi presidente da seção do “Centro de Análises
Geopolíticas” do conselho de Analistas para os Assuntos de Segurança Nacional
junto do Presidente da Duma (Assembleia Legislativa russa). Desde maço de 2008
é o ideólogo oficioso do partido Rússia Unida, partido do governo presidido por
Vladimir Putin, de acordo com a informação constante da página oficial do
Movimento Internacional Eurásico. É considerado atualmente como o intelectual
mais influente da Rússia, próximo quer do primeiro-ministro, quer do presidente
e, inclusive, de muitos líderes da oposição. É autor de mais de 20 obras,
algumas já traduzidas para o inglês, o francês, o italiano, o romeno, o árabe,
espanhol e o português.
[2]Disponível
em http://legio-victrix.blogspot.com.br/search?q=A+quarta+teoria+pol%C3%ADtica
Por Ítalo Eustáquio Rodrigues de Lima
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