sábado, 9 de fevereiro de 2013


RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo trazer em voga, através dos livros e ensaios do prof. Alexander Dugin, a raiz dos conflitos contemporâneos, além de expor algumas movimentações políticas no cenário internacional. Colocaremos em amostra algumas movimentações que tem ocorrido em âmbito global. Principalmente os movimentos anti-liberais, dos quais trataremos aqui.
PALAVRA-CHAVE: Nova Ordem Mundial, Atlantismo, Eurasia, Alexander Dugin, Quarta Teoria Política.

ABSTRACT
The present work aims to bring into vogue, through books and essays by Prof.. Alexander Dugin, the root of contemporary conflict, and exposes some political movements in the international scenario. We'll put some sample transactions that have occurred internationally. Especially the anti-liberal movements, which will be discussed here.
KEYWORD: New World Order, Atlanticism, Eurasia, Alexander Dugin, Fourth Political Theory.
INTRODUÇÃO

O consumo exacerbado das massas determinado a perca de valores antes tidos como sagrado, significou no mundo uma derrocada espiritual até onde se encontra o homem pós-moderno, um mero indivíduo programado apenas para satisfazer seus desejos triviais. Desde o fim da idade média, o mundo conheceu muitas revoluções, aquelas que guiariam o homem a um enorme avanço tecnológico, ao individualismo, em detrimento a sua origem, suas tradição, a sociedade se viu despida do que a unia no sentido coletivo, seria como se um samurai do Japão feudal abandonasse sua espada--eis o homem da atualidade.
Trataremos neste artigo alguns pontos e contrapontos que ajudam a dar uma luz nos bastidores de embates históricos. Uma amostra, sob a perspectiva de Alexander Dugin, um escritor russo que, talvez dentro de alguns anos, poderá chacoalhar o mundo através suas teorias bombásticas, devido a sua voz ativa no governo russo e em boa parte do leste europeu. 




A NOVA ORDEM MUNDIAL         

No mundo ocidental, as gerações das ultimas décadas estiveram habituadas numa paz relativa, a grande maioria conheceu apenas o liberalismo como baluarte político - seu caráter sedutor esta inserido nas promessas de progresso, difundida pelas grandes marcas dominantes, portanto, estas gerações estiveram alheias às tramas que se desenrolaram nos últimos anos. Não se reconhecem pelo coletivo, mas sim, pelo desejo egoísta de se lançarem como arautos desta nova ordem. Uma geração que, sob os auspícios desta nova religião, teve seus sonhos e desejos vinculados a uma “única” ideologia hegemônica: o neoliberalismo, ou seja, o novo “Deus” reinante.
No século XX, marcado por duas grandes guerras, pela guerra fria, a democracia liberal sobressaiu-se sobre seus concorrentes, a vitória sobre o fascismo em 45, a derrocada do partido comunista com a Perestroika, marcou certo otimismo por parte de pensadores liberais. Fukuyama, aproveitando-se de uma URSS moribunda lançara sua tese, “O Fim da História”:
 
[...] A Tese central do seu original ensaio propõe, é claro, que a        humanidade atingiu o ponto final de sua evolução ideológica como o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os seus concorrentes no final do século XX. (ANDERSON, 1992, p.11)

Posteriormente, na guerra do golfo, George Bush (Pai), anunciava uma Nova Ordem Mundial, ou seja, seria a criação de um modelo hegemônico a nível global, que a partir daí, policiaria todo o globo. Falar sobre a N.O. M, sem entrar na conspirologia, é tarefa difícil, mesmo tendo dados valiosos, é importante que foquemos mais em seu aspecto político. Falamos da centralização do poder que, após a crise de 73, o modelo capitalista/keynesiano passou o cetro do poder para o sistema financeiro mundial. Enfim, dentro na noção de N.O. M, tudo que tende a se opor a este paradigma é duramente rechaçado, os nacionalismos, comunismos, teocracias, que ainda persistente em raríssimas pátrias, amarga duras sanções.
Dentro desta perspectiva, somos levados a acreditar que não existira nada além do capitalismo, isso devido seu grande poder de sedução. Mas algo esta mudando, ainda que na obscuridade, ou seja, ressurge nas cinzas das velhas ideologias, novos extremos que se oporão a ordem vigente.

A TERRA E O MAR  

O que seria a esquerda e a direita, conservadorismo, e o que nos tomamos por revolucionário? Seriam noções extremamente distintas, que jamais se misturariam, ou tomariam emprestadas premissas entre si? Fato é que, no mundo pós-moderno, as rupturas com o velho, o obsoleto, são evidentes. As antigas ideologias veem-se desgarradas das utopias, e, portanto, estão procurando, a qualquer custo, se encaixar na conjuntura atual. Observando através deste prisma, é preciso tomar cuidado, não se trata de uma mistura sem precedentes, mas sim, algo extremamente estratégico – houve uma reestruturação, o que não quer dizer, o fim das dicotomias.
Em se tratando de forças opostas, seriamos omissos em acreditar que elas estariam mortas no final da segunda guerra, ou na queda do muro de Berlin, mas os “derrotados” da história, encontrariam força nos meios obscuros, ou seja, encontrariam outro meio para atuação, ainda que nas sombras. Dentre vários teóricos antiliberais, apresentamos Alexander Dugin[1]·, um dos mais proeminentes pensadores da atualidade - do que poderíamos chamar de via dissidente. Em seu livro “A Grande Guerra dos Continentes” ele deixa claro que a razão de os grandes conflitos da atualidade possui raízes profundas:

[...] Na história antiga, as potências “marítimas” que se tornaram nos símbolos históricos da “civilização marítima” no seu conjunto foram a Fenícia e Cartago. O império terrestre que se opunha a Cartago era Roma. As guerras púnicas formam a imagem mais pura da oposição entre a “civilização marítima” e a “ civilização terrestre”. A Inglaterra tornou-se, na época moderna e na história recente, o polo “insular” e “marítimo”, “a senhora dos mares”, à qual se seguiu mais tarde a ilha continental gigante, a América.
A Inglaterra, tal como a antiga Fenícia, utilizou em primeiro lugar como instrumento fundamental de dominação, o comércio marítimo e a colonização de regiões costeiras. O tipo geopolítico fenício/anglo-saxão engendrou um modelo particular de civilização “de mercado-capitalista-mercantil” fundando, antes de tudo, sobre interesses econômicos e materiais e nos princípios do liberalismo econômico. Por consequência, a despeito de todas as variações históricas possíveis, o tipo geral de civilização “marítima” está sempre ligado ao “primado econômico sobre o político”. (DUGIN, 2006, p.22).

Partindo desta analogia, tomamos como “civilização marítima” nos tempos de hoje, o EUA e a União Europeia como exemplo. Em toda a sua carga ideológica promovida no seu expansionismo, e as imposições do sistema financeiro, engendrando-se numa cruzada contra as fronteiras, a soberania nacional, e as diferenças culturais, em defesa do mercado livre, ao passo que:

[...] Por antinomia face ao modelo fenício, Roma representava um exemplo de estrutura autoritária-guerreira fundada sob uma dominação administrativa e sobre uma religião civil, sobre o primado do “político sobre o econômico”. Roma é um exemplo sobre um tipo de colonização puramente continental, não marítima, mas terrestre, com uma penetração profunda no continente e a assimilação dos povos submetidos, invariavelmente “romanizados” depois da conquista. Na história moderna, as encarnações da potencia “terrestre” foram o Império Russo e também os impérios Austro-Hungaros e o da Alemanha da Europa Central. A “Rússia/Alemanha/Áustria-Hungria” são o símbolo essencial da “terra geopolítica” na história moderna. (IDEM).


Partindo destas premissas, e com todo cuidado para que não cometamos nenhum anacronismo, percebemos através da analogia feita pelo prof. Dugin, vimos que os eventuais conflitos, de alguma maneira, possuem conexão histórica, algo como: riqueza x tradição, sangue x ouro. No cerne dos conflitos atuais, como na guerra do Iraque, por traz dos interesses de difundir a “democracia”, podemos constatar também um viés da expansão comercial, em nome do sistema monetário internacional:

[...] Em 2003, os EUA com o apoio inglês inicia a invasão no Iraque, contrariando a resolução da ONU, que negligentemente não toma nenhuma atitude de sanção. Um fator criminoso a mais nesta invasão é o fato dos EUA ter contratado mais de 100mil mercenários da agencia Blackwater, que não precisam seguir as normas de guerra estabelecidas pela convenção de Genebra, o EUA até mesmo enviou mais mercenários que soldados regulares. Após anos de ocupação, que dura até hoje, o pretexto de Saddam Huessein ter armas de destruição em massa provou-se mentira. Hoje, companhias americanas extraem grande parte do petróleo do Iraque, que já se encontrava fechadas há vários anos para as empresas ocidentais. E toda a infraestrutura destruída do país esta sendo refeita por empresas americanas e inglesas que lucraram com contratos milionários do novo governo iraquiano. (SILVA,2011, p.43)

ALEXANDER DUGIN E O PROJETO EURASIA

O prof. Dugin, dono de um vasto curriculum, no passado, participara ativamente na formação do PNB – Partido Nacional Bolchevique –fundado pelo escritor e poeta Eduard Limonov. O PNB tem como inspiração o movimento homônimo levado cabo pelos irmãos Strasser e em ideais leninistas. Um socialismo identitário, mas sem abarcar em pensamentos xenófobos, ou no universalismo trotkysta. Tempos depois, Dugin se afastara do PNB, dando vazão a seu espirito inquieto, acabou se aproximando de Vladimir Putin, tendo voz ativa como ideólogo no partido do atual primeiro ministro russo. O período pós-PNB representou a Dugin uma maior influência de suas teorias. Em 2002, funda o partido Eurásia, que posteriormente mudaria para Movimento Eurásia, influenciando vários círculos políticos na Rússia, leste europeu e em alguns países da Ásia. Este projeto é uma resposta aos planos atlantistas, principalmente no que tange a globalização, ou seja, a expansão do idealismo homogeneizador propugnado pelas oligarquias e corporações neoliberais. O professor acredita que a Rússia terá um papel importante no tocante do plano eurasiático:

 [...] Uma das ideias basilares do seu pensamento teórico é de que Moscovo, Berlim e Paris constituem um eixo político “natural”, as teorias de Dugin assentam no conflito eterno entre a terra e o mar, entre o atlantismo e o eurasianismo, ou seja, entre os EUA e a Rússia. “Por princípios, a Eurásia e o nosso espaço, o coração da Rússia, permanecem como a área na qual se encenará uma nova revolução anti-burguesa e anti-americana”, de acordo com o  seu livro “Fundamentos da Geopolítica”, publicado em 1997, “o novo império eurasiático será construído sob o princípio fundamental do inimigo comum: a rejeição do atlantismo, do controle estratégico dos EUA, e na recusa de permitir os princípios liberais nos dominem. Este impulso civilizacional comum será a base de uma união política e estratégica.”(Disponível em pt.scribd.com/Ítalo_lima_16)

É notável que, através dessa acepção, um embate entre o altantismo e o eurasianismo é iminente. A Rússia como herdeira espiritual da cidade eterna, a terceira Roma; os EUA, herdeira do idealismo comercial, a nova Cartago.




A QUARTA TEORIA POLITICA

Faremos uma retomada ao início do nosso artigo, o texto sobre a Nova Ordem Mundial. Lá citamos que no final do século XX, o liberalismo sobressaiu sobre todas as outras ideologias clássicas. Alcançado o triunfo, seus defensores, no cume da vitória, imaginaram-se a vanguarda das décadas vindouras:
[...] O liberalismo, que sempre havia insistido na minimalização da política, tomou a decisão de abolir a política completamente após seu triunfo. Talvez isso tenha sido para prevenir a formação de alternativas políticas e para tornar seu domínio eterno, ou porque a agenda política havia simplesmente expirado com a ausência de rivais ideológicos, cuja presença Carl Schmitt havia considerado indispensável para a construção adequada de uma posição política. Independentemente da razão, o liberalismo fez tudo o possível para garantir o colapso da política. Ao mesmo o tempo, o próprio liberalismo mudou, passando do plano das ideias, programas políticos e declarações para o plano das coisas, penetrando na própria carne da realidade social, a qual se tornou liberal. Isso foi apresentado não como um processo político, mas como um processo natural e orgânico. Como consequência de tal virada histórica, todas as outras ideológicas políticas, lutando apaixonadamente uma contra a outra durante o último século, perderam sua vigência. O conservadorismo, o fascismo, e o comunismo, junto com suas variações secundárias perderam a batalha e o liberalismo triunfante transmutou-se em um estilo de vida: consumismo, individualismo, e uma iteração pós- moderna do ser fragmentado e subpolítico. A política se tornou biopolítica, passando ao nível individual e sub-individual. Acontece que não foram apenas as ideologias políticas derrotadas que deixaram o palco, mas a política, enquanto tal, incluindo o liberalismo, que também se retirou. É por essa razão que a formação de uma alternativa se tornou tão difícil. Aqueles que não concordam com o liberalismo se encontram em uma situação difícil – o inimigo triunfante se dissolveu e desapareceu; eles estão lutando contra o ar. Como se pode engajar na política, se não há política?(Disponível em http://pbpolitica.blogspot.com.br/2012/11/a-quarta-teoria-politica.html)

Dugin acredita que já não há mais nenhuma necessidade de retomar antigas ideológicas, uma vez que, elas tiveram seu tempo e sua necessidade de existir, mas encontram um final, tanto as derrotadas como as vitoriosas, e não se encaixariam nestes tempos pós-modernos. Recentemente lançara o livro “A Quarta Teoria Política”, nele, lança um chamado ao desafio de criar algo novo, e que esta resposta estaria na quarta via política, ou seja, além do liberalismo-fascismo-comunismo. Notadamente, assim como as diretrizes exposta no Projeto Eurásia, as fichas são jogadas contra o liberalismo, que é considerado culpado por determinar um fim às diferenças culturais ao redor do globo, em especial, exemplifica a Rússia:
[...] Para meu próprio país, a Rússia, a Quarta Teoria Política, entre outras coisas, possui uma significância prática imensa. A maior parte do povo russo sofre sua integração na sociedade global como uma perda de sua própria identidade. A população russa havia rejeitado quase inteiramente a ideologia liberal na década de 90. Mas é também aparente que um retorno às ideologias políticas não-liberais do século XX, tais como comunismo ou fascismo, é improvável, já que essas ideologias já falharam e se provaram historicamente incapazes de se opor ao liberalismo, para não dizer nada dos custos morais do totalitarismo.(Idem)

Através desses dizeres, o professor chega aonde lhe interessa: a necessidade de uma quarta via política, o Nacional Bolchevismo e o Eurasianismo são citados como alternativas, embora reconheça que, em cada parte do globo, as raízes culturais são distintas, e devem ser respeitadas, assim, se faria uma multipolaridade global, ao contrário do mundo unipolar proposto pela nova ordem mundial.
 O autor da QTP, não deixa claro que estaríamos prestes a uma revolução a nível global, mas nos deixa alternativas ao modelo vigente, sugerindo a necessidade de estarmos a par da situação corrente. Ainda é cedo para que tiremos uma conclusão exata de suas premissas, sua influência, apesar de abrangente, ainda esta implícita no meio erudito, salvo exceções, ainda não alcançou o grito dos populares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um mundo atomista, o reino das quantidades, quem se distingue em sua maneira de pensar e de agir, este é então um dissidente. O modelo corrente delimita, a qualquer custo, o pensamento e o porquê do existir. O maior trunfo de Dugin foi, sem dúvidas, alcançando através de suas teorias, incentivando a todos os que nadam contra a corrente, a desvincular dos erros do passado. Os Eurasianistas bradam: “O comunismo e o fascismo falharam” [2], então não há razão para cairmos no “eterno retorno”, seja de que lado estiver, necessitamos que mudemos o curso do nosso mundo para não abarcamos no niilismo pós-modernista.






















REFERENCIAS:

DUGIN, Alexander, A Grande Guerra dos Continentes, Antagonista Sociedade Editora, 2010.

ANDERSON, Perry, O Fim da História: de Hegel a Fukuyama, Jorge Zahar Editora, Rio de Janeiro, 1992.

SILVA, Marcel, Um Grito de Liberdade: independência ou morte! Independente, São Paulo, 2011.

http://pbpolitica.blogspot.com.br/2012/11/a-quarta-teoria-politica.html Acessado em 01/12/2012

http://legio-victrix.blogspot.com.br/search?q=A+quarta+teoria+pol%C3%A Acessado em 30/11/2012

pt.scribd.com/Ítalo_lima_16 Acessado em 29/11/2012




[1] Alexander Dugin, nascido em 1962, é professor de sociologia e diretor do Centro de Estudos Conservadores da Faculdade da Universidade Estatal de Moscou, Doutor em Ciências Políticas, fundador da Escola Moderna de Geopolítica Russa e líder do Movimento Eurásico. Em 1999 foi presidente da seção do “Centro de Análises Geopolíticas” do conselho de Analistas para os Assuntos de Segurança Nacional junto do Presidente da Duma (Assembleia Legislativa russa). Desde maço de 2008 é o ideólogo oficioso do partido Rússia Unida, partido do governo presidido por Vladimir Putin, de acordo com a informação constante da página oficial do Movimento Internacional Eurásico. É considerado atualmente como o intelectual mais influente da Rússia, próximo quer do primeiro-ministro, quer do presidente e, inclusive, de muitos líderes da oposição. É autor de mais de 20 obras, algumas já traduzidas para o inglês, o francês, o italiano, o romeno, o árabe, espanhol e o português.
[2]Disponível em http://legio-victrix.blogspot.com.br/search?q=A+quarta+teoria+pol%C3%ADtica

Por Ítalo Eustáquio Rodrigues de Lima

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